domingo, 24 de maio de 2009

Sobre velhinhas poéticas e soluços.

Ou vice versa.
De vez em quando sinto um negócio estranho.Por falta de um nome melhor, acabei batizando de 'soluço poético'. Posso estar na rua, no banho ou na Festa do Tomate de Seropédica -não importa aonde - quando, involuntariamente, cai em minha cabeça um balde d'água de assombro com a vida. Se pudesse ser resumido numa frase, seria algo como 'pusta-quil-pariu-espermatozóide-óvulo-eu-agora-aqui-mas-um-dia-morrer-e-antes-praia-beijo-churrasco-skate-Drummond-carnaval-que-estranho-tudo-sentido-nenhum-viva!'
Comprima a frase toda até ficar do tamanho da cabeça de um alfinete -cujo eu vou morrer procurando - engula, espere um pequeno Big Bang e pronto!É assim que me sinto!

Outro dia, por exemplo, eu tava esperando um ônibus com uma velhinha. Só eu e ela no ponto. Comecei a olhar pra senhora, seu vestido florido e hic,Big Bang! Me deu um soluço poético. Senti uma vontade quase incontrolável de dizer pra ela como era ridículo aquele nosso silêncio, aquele boa tarde tímido e o olhar pra baixo, um desviando do outro como se fossem fios desencapados que se entrasse em contato soltariam faísca. [O maior pânico na cidade não é a violência - ok, é também - mas sim o olho no olho! As pessoas fazem verdadeiros malabarismos oculares em ônibus, metrôs, e corredores para pousarem suas vistas longe das dos outros.A violência é mera consequência da falta de olho no olho. E eu digo porquê meus olhos fogem da vista dos outros, seu perceber.]

Mas voltemos a tiazinha. Eu queria chacoalhá-la e perguntar: A Senhora é feliz? A senhora é casada? Solteira? A senhora tem orgasmos? A senhora gosta de filé a parmegiana? Não, minha senhora?Não é feliz? Não tem orgasmos? Não come filé a parmegiana há duas semanas? Então o que a senhora tá fazendo aqui? Saia desse ponto de ônibus que vai dar em lugar nenhum -leia-se Queimados - e trate já de arrumar um amante, um restaurante, uma aula de jardinagem, aprenda a tocar cuíca, minha senhora, a dançar tango, vá tomar sol. ou então tome uma caipirinha. Tome logo duas! Daqui a pouco acaba. Não, não a caipirinha o que já seria ruim - mas a vida mesmo -o que é pior ainda .
Eu, você, esse ponto de ônibus, a cidade e a civilização que nos produziram acabarão também. Até o universo, dizem as más línguas - e como elas falam ein - pode dar com os burros n'água -POR QUE RAIOS EU USEI ESSA EXPRESSÃO? - qualquer horas dessas, e nós aqui, brincando de desviar vistas no ponto de ônibus... Não é ridículo?

Óbvio que tudo que eu pensei em relação à velhinha na verdade era sobre mim mesmo. Acontece que nós nascemos -creio eu- com um dispositivo anti-pânico -que quando viramos mães e pais ele automaticamente quebra - um emburrecedor cósmico, algo que turva a nossa visão o suficiente para que não vejamos o tempo todo um berço de um lado e um cemitério do outro. Isso nos deixa mais calmos, mas transforma a vida numa sequência idiota de acontecimentos. O soluço poético, os caldos que eu tomo na praia, os beijos na boca e algumas outras coisas servem para abrir nossos olhos.
Acho que deveria prestar mais atenção a esses soluços.Ou, quem sabe, tomar um sal de frutas?

8 comentários:

R a f a e L a disse...

'O maior pânico na cidade não é a violência - ok, é também - mas sim o olho no olho!'
Em todo lugar é assim ¬¬

e vc escreve muuito bem *---*

Bruno Souza disse...

As vezes eu tbm tenho essas coisas...
Fico tentendo adivinhar se as pessoas que eu vejo são mais felizes q eu .-.

Daniel Iserhard disse...

Genial, continuo dizendo que sou fã dos teus textos e me identifico muito com essas situação de soluços poéticos.

Acho que todos nós temos essas coisas... ou só nós mesmo.

Eu chamava isso de "filosofar sem motivo"

Rose Carreiro disse...

Gosto de ter esses soluços qnd tow bêbada, q ae eu vou lá e falo hahahahaha

Adorei a parte do "a senhora tem orgasmos?" - o máximo q já fiz foi perguntar prum cara se ele era virgem. E ele era.

=*

Inezteves disse...

Continue soluçando...
:D

Inezteves disse...

...Mas pega leve nas perguntas as velhinhas ok?

Carolina disse...

Meniiina, adorei o jeito que você escreve!
E também acho que você deve continuar soluçando... de vez em quando tenho esses momentos, mas jamais pensei em chamá-los de soluços poéticos. Gostei!
Beijo

andré luiz ->Dré disse...

sempre acontece,
imagine que você exprima , suas vontades e dizeres relacionados a alguém ou á alguma coisa.
seus textos têm ênfase ...e se encaixão no seu cotidiano.
caro, vc sabe oke fala...
rsrsrs.vou ler sempre curty!